sexta-feira, setembro 07, 2007

Soldado


Passei séculos sem lutar, sem levantar uma espada ou manejar um machado. Tenho saudades do cheiro a sangue que me acariciava o ego e importunava a alma. Fui implacável com os meus inimigos, que achavam em mim a morte certa. Nunca usei um escudo, apenas precisava de uma espada numa mão e um machado na outra, apenas precisava de um inimigo com o sangue suficientemente quente para que eu pudesse arrefece-lo. Nunca procurei a morte, ela é que me encontrou, fez de mim o seu derradeiro discípulo, o seu melhor aluno.

Agora estou aqui, na margem deste rio por onde corre a minha vida no sentido contrario, com uma flecha espetada na perna ate a profundidade dos meus sonhos distantes. Quando espreito para o rio vejo o reflexo do nada, que se afasta irremediavelmente para uma foz pouco distante.

Fui o soldado perfeito, poucos fizeram a morte nascer como eu fiz, mas agora gelo o meu sangue numa margem de um rio secundário sendo a morte o meu único pagamento.