quarta-feira, julho 26, 2006
sábado, julho 22, 2006
E agora?
Sento-me no chão frio, fico à espera. Em cada momento que passa, tudo fica igual, apenas existe uma promessa renovada de angústia que se torna mais real a cada passo que não dou.
Quebro a chão, com a fúria suprema que só um homem sem nada é capaz de ter. Já não tenho nada. Nunca tive nada. Estou a cair e não vejo o fundo, não tenho onde me agarrar. Nunca tive. Nunca precisei de ter.
- Aposto que não sabes voar.
- Como adivinhaste?
- Eu sei tantas coisas...
- Conta-me, tenho tempo para te ouvir.
- Não tens, não.
- Como adivinhaste?
Quebro a chão, com a fúria suprema que só um homem sem nada é capaz de ter. Já não tenho nada. Nunca tive nada. Estou a cair e não vejo o fundo, não tenho onde me agarrar. Nunca tive. Nunca precisei de ter.
- Aposto que não sabes voar.
- Como adivinhaste?
- Eu sei tantas coisas...
- Conta-me, tenho tempo para te ouvir.
- Não tens, não.
- Como adivinhaste?
Rua

A rua deserta
Coberta de silencio
Paro.
Já não es a minha rua.
Onde esta aquela mulher nua?
O homem de faca na mão?
A bola já não rola.
O velho já não grita.
Onde esta a menina bonita?
Já foi. E também foi,
a fogueira no meio da rua.
Foi
o cheiro a comida,
a puta da esquina,
a cerveja gelada.
Da Marlene já não sei nada.
Onde esta a minha vida?
Já foi. Agora estás na rua errada.
Casa (Vem Fazer De Conta)
Era tudo quando ela me dizia, “Benvindo a casa”, numa voz bem
calma
Acabado de entrar, pensava como reconforta a alma
nunca tão poucas palavras tiveram tanto significado
e de repente era assim, do nada, como um ser iluminado -
e tudo fazia sentido, respirar fazia sentido, andar fazia
sentido, todo o pequeno pormenor em pensamento perdido
era isto que realmente importava, não qualquer outro tipo de
gratificação
Não o que se ganhava não o bem que dizem de nós não, não, não
um novo carro, uma boa poupança, nem sequer a família, ou a tal
aliança - nada…
Apenas duas palavras, um artigo, formavam a resposta universal
A minha pedra filosofal
Seguia para dentro do nosso pequeno universo
Um pouco disperso - pronto, dísponivel para ser submerso
Naquele mar de temperatura amena que a minha pequena abria para
mim sempre tranquila e serena
Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta, eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Quando queremos nós ter um sorriso maior
Bem-vindo a casa dizia quando saia de dentro dela
O bonito paradoxo inventado por aquela dama bela
Em dias que o tempo parou, gravou dançou, não tou capaz de ir
atrás, mas vou
porque sou trapalhão, perdi a chave, nem sei bem o caminho
nestes dias difusos em que ando sozinho e definho
à procura de uma casa nova do caixão até a cova
o percurso é duro em toda a linha, sempre à prova
Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta, eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Quando queremos nós ter um sorriso maior
Por isso escrevo na esperança que ela ouça o meu pedido de
desculpas, de Socorro, de abrigo
não consigo ver uma razão para continuar a viver sem a
felicidade do meu lar
da minha casa, doce casa, já ouviram falar?
É o refúgio de uma mulher que deus ousou criar
Com o simples e unico propósito de me abrigar
Não vejo a hora de voltar lá para dentro, faz frio cá fora
Faz tanto frio cá fora que eu já não vejo a hora…
Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Quando queremos nós ter um sorriso maior
Da Weasel
calma
Acabado de entrar, pensava como reconforta a alma
nunca tão poucas palavras tiveram tanto significado
e de repente era assim, do nada, como um ser iluminado -
e tudo fazia sentido, respirar fazia sentido, andar fazia
sentido, todo o pequeno pormenor em pensamento perdido
era isto que realmente importava, não qualquer outro tipo de
gratificação
Não o que se ganhava não o bem que dizem de nós não, não, não
um novo carro, uma boa poupança, nem sequer a família, ou a tal
aliança - nada…
Apenas duas palavras, um artigo, formavam a resposta universal
A minha pedra filosofal
Seguia para dentro do nosso pequeno universo
Um pouco disperso - pronto, dísponivel para ser submerso
Naquele mar de temperatura amena que a minha pequena abria para
mim sempre tranquila e serena
Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta, eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Quando queremos nós ter um sorriso maior
Bem-vindo a casa dizia quando saia de dentro dela
O bonito paradoxo inventado por aquela dama bela
Em dias que o tempo parou, gravou dançou, não tou capaz de ir
atrás, mas vou
porque sou trapalhão, perdi a chave, nem sei bem o caminho
nestes dias difusos em que ando sozinho e definho
à procura de uma casa nova do caixão até a cova
o percurso é duro em toda a linha, sempre à prova
Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta, eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Quando queremos nós ter um sorriso maior
Por isso escrevo na esperança que ela ouça o meu pedido de
desculpas, de Socorro, de abrigo
não consigo ver uma razão para continuar a viver sem a
felicidade do meu lar
da minha casa, doce casa, já ouviram falar?
É o refúgio de uma mulher que deus ousou criar
Com o simples e unico propósito de me abrigar
Não vejo a hora de voltar lá para dentro, faz frio cá fora
Faz tanto frio cá fora que eu já não vejo a hora…
Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Quando queremos nós ter um sorriso maior
Da Weasel
sexta-feira, julho 21, 2006
Meu Erro
Eu quis dizer
Você não quis escutar
Agora não peça
Não me faça promessas
Eu não quero te ver
Nem quero acreditar
Que vai ser diferente
Que tudo mudou
Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria
Ah meu Deus era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone
Mesmo querendo eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo os seus erros
Não há nada de novo
Ainda somos iguais
Então não me chame
Não olhe pra trás
Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria
Ah meu Deus era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone jamais
Paralamas do Sucesso
Você não quis escutar
Agora não peça
Não me faça promessas
Eu não quero te ver
Nem quero acreditar
Que vai ser diferente
Que tudo mudou
Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria
Ah meu Deus era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone
Mesmo querendo eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo os seus erros
Não há nada de novo
Ainda somos iguais
Então não me chame
Não olhe pra trás
Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria
Ah meu Deus era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone jamais
Paralamas do Sucesso
Volúpia
No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A núvem que arrastou o vento norte...
--- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...
Florbela Espanca
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A núvem que arrastou o vento norte...
--- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...
Florbela Espanca
terça-feira, julho 18, 2006
Três Magos
E eis que três magos se juntaram para uma jornada fantástica, numa realidade paralela.
Tivemos a sorte de encontrar um seat amarelo que nos conduziu, qual estrela cadente, pelo labirinto desconhecido daquele outro Mundo (obrigado mais uma vez Isabel).
Cruzamo-nos com a polícia que praticamente nós ajudaram a escolher as camisas. Colocamos aquele creme, como pormenor final, que foi o nosso escudo contra tudo de mal que nós poderia acontecer. Estávamos preparados.
Avançamos confiantes, parecia que uma força superior estava encarregue de nós conduzir. E eis que estávamos em outra realidade. Onde fomos americanos, portugueses, argumentistas (diamantes e anões), fisios, dançarinos profissionais. Onde fomos os maiores, seremos sempre os maiores, não porque fizemos algo de extraordinário mas porque o fizemos como se fosse tão natural como respirar.
Onde vimos, as limusinas, o indivíduo vendido por 10 euros, os calçõezinhos, os amendoins que não o eram, os cigarros, os beijinhos, as sete Deusas pretas e doiradas, os patins que passeavam aquelas saias pela passarela, as gravatas que nós diziam adeus alegremente e mandavam beijinhos. A ousadia era a nossa arma e tão bem que a usamos.
Também encontramos coisas menos boas, o primo do Riquelme, o ressabiado do Osvaldo mas que não foram suficientes para colocar minimamente em causa a nosso triunfo naquele Mundo.
Fomos invadidos por luzes, por sons, por cheiros, por olhares, por toques que nós fizeram sentir Deuses daquela realidade, da qual também fazemos parte agora.
E eis que a luz veio, calma e branda. O cansaço agora já se fazia sentir, não havia duvidas, era-mos novamente humanos. Aquela realidade era desmontada rapidamente ao som das gaivotas, que anunciavam a transição de deuses a mortais.
Ficaram ainda as extraordinárias conversas, durante a viagem, sobre futebol, cinema, calçãozinho, sobre tudo e especialmente sobre nada. Mostramos que mesmo como humanos somos capazes de tocar na eternidade.
Fica a promessa de voltar, de sermos heróis, de sermos ainda mais do que fomos porque tudo é possível quando falamos em Magos.
Tivemos a sorte de encontrar um seat amarelo que nos conduziu, qual estrela cadente, pelo labirinto desconhecido daquele outro Mundo (obrigado mais uma vez Isabel).
Cruzamo-nos com a polícia que praticamente nós ajudaram a escolher as camisas. Colocamos aquele creme, como pormenor final, que foi o nosso escudo contra tudo de mal que nós poderia acontecer. Estávamos preparados.
Avançamos confiantes, parecia que uma força superior estava encarregue de nós conduzir. E eis que estávamos em outra realidade. Onde fomos americanos, portugueses, argumentistas (diamantes e anões), fisios, dançarinos profissionais. Onde fomos os maiores, seremos sempre os maiores, não porque fizemos algo de extraordinário mas porque o fizemos como se fosse tão natural como respirar.
Onde vimos, as limusinas, o indivíduo vendido por 10 euros, os calçõezinhos, os amendoins que não o eram, os cigarros, os beijinhos, as sete Deusas pretas e doiradas, os patins que passeavam aquelas saias pela passarela, as gravatas que nós diziam adeus alegremente e mandavam beijinhos. A ousadia era a nossa arma e tão bem que a usamos.
Também encontramos coisas menos boas, o primo do Riquelme, o ressabiado do Osvaldo mas que não foram suficientes para colocar minimamente em causa a nosso triunfo naquele Mundo.
Fomos invadidos por luzes, por sons, por cheiros, por olhares, por toques que nós fizeram sentir Deuses daquela realidade, da qual também fazemos parte agora.
E eis que a luz veio, calma e branda. O cansaço agora já se fazia sentir, não havia duvidas, era-mos novamente humanos. Aquela realidade era desmontada rapidamente ao som das gaivotas, que anunciavam a transição de deuses a mortais.
Ficaram ainda as extraordinárias conversas, durante a viagem, sobre futebol, cinema, calçãozinho, sobre tudo e especialmente sobre nada. Mostramos que mesmo como humanos somos capazes de tocar na eternidade.
Fica a promessa de voltar, de sermos heróis, de sermos ainda mais do que fomos porque tudo é possível quando falamos em Magos.
Foto II

Ai estas tu, arrastando-te vagarosamente numa vida que vai deixando de te pertencer. Que levas ai? Ainda carregas alguma coisa? Ou es mais uma que chega ao fim da caminhada vazia, por ir deixando as coisas ficarem pelo caminho?
Tiveste tanto e tantas vezes não foste capaz de perceber isso. Agora já não interessa, estás entregue à lei que nunca falha. Vais chorar? Conta-me pelo menos agora as causas para essas lagrimas que esculpiram tantas rugas na tua face. Conta-me quem chorou contigo e por quem tu choraste.
Espera, não tenhas pressa. Ainda há tempo para um último café. Não percas tempo agora, a queixar-te do trabalho que tiveste, dos homens que conheceste, do sofrimento que a vida te impôs. Tu foste a única responsável por essa dor que sufoca o teu coração e que o impede cada vez mais, de continuar a bater.
Porquê não agarraste cada sorriso que te deram? Porquê não festejaste cada vez que o sol brilhou? Porquê não amaste tudo o que te amou?
Pois, agora não importa. Já ouço as lagrimas que vão cair por ti. Talvez não saibas mas ainda es importante para alguém. Estavas cansada da vida, dizes tu. Cansada do quê? Se tudo o que fizeste foi não viver. Quantas vezes viste o pôr-do-sol de mãos dadas com alguém? Quantas vezes contaste as estrelas do céu a ouvir a tua música preferida? Quantas vezes ouviste atentamente aqueles que só falavam por tu existires? Quantas vezes fizeste aquilo que te diziam para não fazer? Então não viveste.
Trazes um saco vazio para este ultimo acto, não te deste ao trabalho de o encher. Achas que vais ter algo em troca de um saco vazio?
Podes sentar-te e esperar, ela deve estar a chegar, nunca se esquece de ninguém. Que posso fazer por ti? Queres dar-me a mão? Tudo bem.
Pelo menos já não partes de mãos vazias.
Tiveste tanto e tantas vezes não foste capaz de perceber isso. Agora já não interessa, estás entregue à lei que nunca falha. Vais chorar? Conta-me pelo menos agora as causas para essas lagrimas que esculpiram tantas rugas na tua face. Conta-me quem chorou contigo e por quem tu choraste.
Espera, não tenhas pressa. Ainda há tempo para um último café. Não percas tempo agora, a queixar-te do trabalho que tiveste, dos homens que conheceste, do sofrimento que a vida te impôs. Tu foste a única responsável por essa dor que sufoca o teu coração e que o impede cada vez mais, de continuar a bater.
Porquê não agarraste cada sorriso que te deram? Porquê não festejaste cada vez que o sol brilhou? Porquê não amaste tudo o que te amou?
Pois, agora não importa. Já ouço as lagrimas que vão cair por ti. Talvez não saibas mas ainda es importante para alguém. Estavas cansada da vida, dizes tu. Cansada do quê? Se tudo o que fizeste foi não viver. Quantas vezes viste o pôr-do-sol de mãos dadas com alguém? Quantas vezes contaste as estrelas do céu a ouvir a tua música preferida? Quantas vezes ouviste atentamente aqueles que só falavam por tu existires? Quantas vezes fizeste aquilo que te diziam para não fazer? Então não viveste.
Trazes um saco vazio para este ultimo acto, não te deste ao trabalho de o encher. Achas que vais ter algo em troca de um saco vazio?
Podes sentar-te e esperar, ela deve estar a chegar, nunca se esquece de ninguém. Que posso fazer por ti? Queres dar-me a mão? Tudo bem.
Pelo menos já não partes de mãos vazias.
Não estou bem.
Não estou bem,
nem tenho de estar.
Hoje não quero sorrir.
Hoje não sei conversar.
A alegria evaporou-se,
E eu não sei se vou aguentar.
Porque com este infernal calor.
Arrisco-me a também eu a evaporar.
nem tenho de estar.
Hoje não quero sorrir.
Hoje não sei conversar.
A alegria evaporou-se,
E eu não sei se vou aguentar.
Porque com este infernal calor.
Arrisco-me a também eu a evaporar.
Amanhã
Amanhã.
Sempre amanhã.
Hoje é cedo,
ainda temos o amanhã.
Quando amanhã for hoje,
teremos novamente amanhã.
Nunca precisaremos de fazer nada hoje,
porque existe sempre o amanhã.
Mas se o amanhã deixar de existir.
De que valera fazer algo hoje?
Sempre amanhã.
Hoje é cedo,
ainda temos o amanhã.
Quando amanhã for hoje,
teremos novamente amanhã.
Nunca precisaremos de fazer nada hoje,
porque existe sempre o amanhã.
Mas se o amanhã deixar de existir.
De que valera fazer algo hoje?
quinta-feira, julho 13, 2006
Meus senhores isto é pura arte.
Após ver um documentário sobre a vida do eterno numero dez da selecção das pampas, encontrei no texto abaixo, escrito por Luís Freitas Lobo, uma justa homenagem a “El Pibe”. Obrigado Maradona, porque futebol também é arte. Sei que apenas vão ler este texto os fanáticos como eu.
Em qualquer momento ou local que repouse a sua existência, Diego seguirá driblando para a eternidade na minha memória como um desafio ao impossível, rompendo fronteiras no tempo, porque vê-lo jogar, como pibe com a camisola do Argentinos Juniors ou como capitão da selecção de Gardel, foi, para mim, um agnóstico que gosta e respira futebol, a única prova de que Deus existe.
Quero falar-vos de um poeta. Um poeta do futebol maravilha que transformou em terreno aquilo que nem os Deuses, na relva do Olimpo, tinham logrado sonhar.
Há quem defenda que a bola é um ser vivo, dotada de vontade própria, que só se aproxima daqueles que a sabem tratar bem, com amor e carinho. Também penso assim. Por isso, durante muito tempo, pensou-se que o tesouro do futebol estava guardado num lugar seguro, fechado a sete chaves: O corpo de Diego Maradona.
Guardo religiosamente todos os resumos dos seus jogos e golos, do Boca ao Nápoles, entre eles um livre indirecto marcado, numa tarde de chuva, frente á Juventus, com um chapéu á entrada da pequena área fazendo a bola sobrevoar, como um pássaro, toda a equipa bianconera, até ao angulo superior da baliza de Tacconi. Um poema em forma de futebol.
Na hora da chegada ao México, um facto na altura pouco significativo acabou, no futuro, por tornar-se no segredo do muito que se iria suceder no mês seguinte. Desembarcavam figuras como Platini e Rumenigge e ambos diziam que não se consideravam favoritos. Ora porque não estava em bom momento de forma, ora porque vinham arrastando uma lesão, etc. Quando chegou Maradona, tudo foi diferente: “Estou aqui para ganhar e para provar que sou o melhor jogador do mundo”.
Conta-se que numa humlde habitação argentina Don Salvatore, o célebre pianista de Colón, das memórias de Osvaldo Soriano, um dos milhões de argentinos sofredores, velho discipulo de Zapata, caiu da cadeira quando viu aquela segunda proeza de Maradona e pediu a todos que não o levantassem até ao dia de se jogar a final.
O italiano Bagni que compartiu com Maradona, os melhores anos da vida do Nápoles, conta que muitas vezes lhe intrigava o facto de, acabado o treino, e enquanto todos recolhiam ao balneário bebendo água esgotados, o argentino de ouro ficava para trás e, uma a uma, recolhia as bolas espalhadas pelos quatro cantos do relvado, levando-as, ora com pequenos toques sem a deixar cair, ora acariciando-a e dando-lhe beijinhos, ora brincando com ela, até ao saco que as iria abrigar até á sessão seguinte.
Um ritual de arte que intrigava Bagni, até que, o fim de alguns dias, perguntou-lhe porque o fazia. É só porque gosto de estar só com elas, tratá-las com carinho, falar-lhes ao ouvido para que no dia do jogo me obedeçam, amo-as tanto que todo o tempo do mundo com elas seria pouco para mim, explicou o pelusa, enquanto a seu lado passava um ragazzo e um cão usando duas perucas de Maradona.
“Em 85, na Colômbia, atiraram-lhe um laranja quando se preparava para marcar um canto e ele viu-a ainda no ar. Quando caía, amorteçeu-a com o pé, fazendo um movimento com o calcanhar, “tobillo”, que a permitiu de ficar colada á sua bota, sem se desfazer. Então começou a dar-lhe toques curtos e rápidos, sem a deixar caír, tic, tic, tic. De repente, levantou-a meio metro, deu a volta, de costas para o público, e pegou uma bicicleta na laranja que a devolveu mais ou menos ao sitio de onde tinha vindo, mas agora já desfeita. Isso vi eu, não me contaram!”.
Jorge Valdano, in Sueños de Futbol
Como definir Maradona? Era Deus jogando futebol. Uma vez quando estava em Barcelona, já aborrecido por estar numa recepção, encafuado dentro de um grande salão cheio de objectos valiosos, entre eles muitos objectos de ouro, descobriu uma bola e resolveu, ali mesmo, começar a dar-lhe toques. Brinca e diz que a vai meter num cesto que está lá do outro lado do salão, em cima de um pequeno móvel.
Levanta-a e remata na sua direcção. A bola passeia pela sala, passa ao lado, sempre muito perto, das peças de ouro e prata, estatuetas douradas, vasos da dinastia Ming, e, no meio de um conter de respiração geral, enfia-se, obediente, no cesto colocado no outro extremo.
Existe a obra divina e existe a obra humana. Existe a obra perfeita e existe a obra imperfeita. Neste cenário perfeito, o futebol de Maradona, terá sido uma obra divina ou um feito meramente terreno?
Luís Freitas Lobo
Em qualquer momento ou local que repouse a sua existência, Diego seguirá driblando para a eternidade na minha memória como um desafio ao impossível, rompendo fronteiras no tempo, porque vê-lo jogar, como pibe com a camisola do Argentinos Juniors ou como capitão da selecção de Gardel, foi, para mim, um agnóstico que gosta e respira futebol, a única prova de que Deus existe.
Quero falar-vos de um poeta. Um poeta do futebol maravilha que transformou em terreno aquilo que nem os Deuses, na relva do Olimpo, tinham logrado sonhar.
Há quem defenda que a bola é um ser vivo, dotada de vontade própria, que só se aproxima daqueles que a sabem tratar bem, com amor e carinho. Também penso assim. Por isso, durante muito tempo, pensou-se que o tesouro do futebol estava guardado num lugar seguro, fechado a sete chaves: O corpo de Diego Maradona.
Guardo religiosamente todos os resumos dos seus jogos e golos, do Boca ao Nápoles, entre eles um livre indirecto marcado, numa tarde de chuva, frente á Juventus, com um chapéu á entrada da pequena área fazendo a bola sobrevoar, como um pássaro, toda a equipa bianconera, até ao angulo superior da baliza de Tacconi. Um poema em forma de futebol.
Na hora da chegada ao México, um facto na altura pouco significativo acabou, no futuro, por tornar-se no segredo do muito que se iria suceder no mês seguinte. Desembarcavam figuras como Platini e Rumenigge e ambos diziam que não se consideravam favoritos. Ora porque não estava em bom momento de forma, ora porque vinham arrastando uma lesão, etc. Quando chegou Maradona, tudo foi diferente: “Estou aqui para ganhar e para provar que sou o melhor jogador do mundo”.
Conta-se que numa humlde habitação argentina Don Salvatore, o célebre pianista de Colón, das memórias de Osvaldo Soriano, um dos milhões de argentinos sofredores, velho discipulo de Zapata, caiu da cadeira quando viu aquela segunda proeza de Maradona e pediu a todos que não o levantassem até ao dia de se jogar a final.
O italiano Bagni que compartiu com Maradona, os melhores anos da vida do Nápoles, conta que muitas vezes lhe intrigava o facto de, acabado o treino, e enquanto todos recolhiam ao balneário bebendo água esgotados, o argentino de ouro ficava para trás e, uma a uma, recolhia as bolas espalhadas pelos quatro cantos do relvado, levando-as, ora com pequenos toques sem a deixar cair, ora acariciando-a e dando-lhe beijinhos, ora brincando com ela, até ao saco que as iria abrigar até á sessão seguinte.
Um ritual de arte que intrigava Bagni, até que, o fim de alguns dias, perguntou-lhe porque o fazia. É só porque gosto de estar só com elas, tratá-las com carinho, falar-lhes ao ouvido para que no dia do jogo me obedeçam, amo-as tanto que todo o tempo do mundo com elas seria pouco para mim, explicou o pelusa, enquanto a seu lado passava um ragazzo e um cão usando duas perucas de Maradona.
“Em 85, na Colômbia, atiraram-lhe um laranja quando se preparava para marcar um canto e ele viu-a ainda no ar. Quando caía, amorteçeu-a com o pé, fazendo um movimento com o calcanhar, “tobillo”, que a permitiu de ficar colada á sua bota, sem se desfazer. Então começou a dar-lhe toques curtos e rápidos, sem a deixar caír, tic, tic, tic. De repente, levantou-a meio metro, deu a volta, de costas para o público, e pegou uma bicicleta na laranja que a devolveu mais ou menos ao sitio de onde tinha vindo, mas agora já desfeita. Isso vi eu, não me contaram!”.
Jorge Valdano, in Sueños de Futbol
Como definir Maradona? Era Deus jogando futebol. Uma vez quando estava em Barcelona, já aborrecido por estar numa recepção, encafuado dentro de um grande salão cheio de objectos valiosos, entre eles muitos objectos de ouro, descobriu uma bola e resolveu, ali mesmo, começar a dar-lhe toques. Brinca e diz que a vai meter num cesto que está lá do outro lado do salão, em cima de um pequeno móvel.
Levanta-a e remata na sua direcção. A bola passeia pela sala, passa ao lado, sempre muito perto, das peças de ouro e prata, estatuetas douradas, vasos da dinastia Ming, e, no meio de um conter de respiração geral, enfia-se, obediente, no cesto colocado no outro extremo.
Existe a obra divina e existe a obra humana. Existe a obra perfeita e existe a obra imperfeita. Neste cenário perfeito, o futebol de Maradona, terá sido uma obra divina ou um feito meramente terreno?
Luís Freitas Lobo
Acordo
Acordo, tu já te levantas-te, abriste a janela para eu poder acordar com a luz do dia e a doce brisa que agora também passeia pelo quarto. Olho para ti e sinto uma angústia por não ser um Deus, para te poder ter sempre perto de mim.
Os teus olhos ainda reclamam de sono e o teu cabelo está um mar revolto que só o meu colo sabe acalmar. Volta para a cama, ainda estou nu. Abres um sorriso, aquele sorriso espontâneo, que só eu quero despertar, onde os meus beijos anseiam por navegarem. Dizes-me que não, com aquele ar de menina inocente que me faz arder o corpo por fora e por dentro.
Saio da cama e agarro-te, abraço-te mas não me chega, preciso sempre de mais. Preciso de tudo que me possas dar e continua a não me chegar. Atiro-te para a cama e tu sorris com aquele ar de quem promete tudo, um novo mundo. Eu atiro-me também, para nesse novo Mundo que agora é tudo que quero.
Tens vestida a t-shirt que me deste naquele dia, lembras-te? Como podia esquecer. Tiro-te a t-shirt como quem despe uma criança. Paraste de sorrir, os teus olhos já não querem dormir. Digo-te ao ouvido, nunca recuses o convite de um homem nu. Tu soltas uma gargalhada, como só as pessoas boas sabem fazer. Naquele momento só não te amo porque não sei amar.
Depois daqueles mil prazeres que somente nós sabemos dar um ao outro, tu perguntas-me. Posso ficar aqui? Eu digo. Porquê? Para quê?
Porque quero ouvir contigo o Jorge Palma, o Caetano Veloso, os Smashing Pumpkins, a Adriana Calcanhoto, o Dave Matthews Band… os dois deitados no chão da sala a ver a luz do sol evaporar-se.
Porque quero ver contigo aqueles filmes esquisitos que só tu sabes descobrir e que acabas sempre por gostar, porque eu sei que es generoso apesar de o negares.
Porque quero deitar-me no teu colo encanto cada um de nós lê o seu livro, a apanhamos o último sol do dia na tua varanda.
Porque quero que me contes a história do teu livro, adoro o teu entusiasmo a contar as peripécias das personagens, apesar de ficar sempre tão confusa com os teus resumos, misturas tudo mas eu adoro.
Eu afasto o teu cabelo, dou um beijo no teu nariz e digo. Conheces-me tão bem que tenho medo de ti.
Eu sei, mas não precisas de ter.
Eu sei, mas tenho.
Os teus olhos ainda reclamam de sono e o teu cabelo está um mar revolto que só o meu colo sabe acalmar. Volta para a cama, ainda estou nu. Abres um sorriso, aquele sorriso espontâneo, que só eu quero despertar, onde os meus beijos anseiam por navegarem. Dizes-me que não, com aquele ar de menina inocente que me faz arder o corpo por fora e por dentro.
Saio da cama e agarro-te, abraço-te mas não me chega, preciso sempre de mais. Preciso de tudo que me possas dar e continua a não me chegar. Atiro-te para a cama e tu sorris com aquele ar de quem promete tudo, um novo mundo. Eu atiro-me também, para nesse novo Mundo que agora é tudo que quero.
Tens vestida a t-shirt que me deste naquele dia, lembras-te? Como podia esquecer. Tiro-te a t-shirt como quem despe uma criança. Paraste de sorrir, os teus olhos já não querem dormir. Digo-te ao ouvido, nunca recuses o convite de um homem nu. Tu soltas uma gargalhada, como só as pessoas boas sabem fazer. Naquele momento só não te amo porque não sei amar.
Depois daqueles mil prazeres que somente nós sabemos dar um ao outro, tu perguntas-me. Posso ficar aqui? Eu digo. Porquê? Para quê?
Porque quero ouvir contigo o Jorge Palma, o Caetano Veloso, os Smashing Pumpkins, a Adriana Calcanhoto, o Dave Matthews Band… os dois deitados no chão da sala a ver a luz do sol evaporar-se.
Porque quero ver contigo aqueles filmes esquisitos que só tu sabes descobrir e que acabas sempre por gostar, porque eu sei que es generoso apesar de o negares.
Porque quero deitar-me no teu colo encanto cada um de nós lê o seu livro, a apanhamos o último sol do dia na tua varanda.
Porque quero que me contes a história do teu livro, adoro o teu entusiasmo a contar as peripécias das personagens, apesar de ficar sempre tão confusa com os teus resumos, misturas tudo mas eu adoro.
Eu afasto o teu cabelo, dou um beijo no teu nariz e digo. Conheces-me tão bem que tenho medo de ti.
Eu sei, mas não precisas de ter.
Eu sei, mas tenho.
Um Mundo, pode ser?
Não quero este Mundo. Quero outro, bem diferente deste. Quero um Mundo onde as janelas estejam abertas, onde não existam portas.
Quero poder jogar futebol nas avenidas e pontes. Quero poder jogar até ao fim da noite e gritar bem alto quando marcar o ultimo golo da partida, o golo decisivo.
Preciso de um Mundo, onde acorde de manhã na tua cama e deite-me à noite na cama dela. Quero poder namorar mil mulheres num dia, e no dia seguinte descansar de tanto amor.
No meu Mundo tenho de ter uma casa na montanha e outra na praia, a casa é de todos e todas as noites é festa.
Quero um Mundo, onde uma semana tem oito dias, o fim-de-semana são sete e tenho de ter uma folga durante a semana. Caso contrario recuso-me a trabalhar, então o patrão vai-me mandar embora e dar-me um aumento de ordenado.
Quero um Mundo, onde tenha direito à Jennifer Aniston um dia por semana, onde o meu clube seja sempre campeão. Se o meu clube perder o campeonato, então passo a ter direito à Jennifer Aniston 5 dias por semana.
Não quero fronteiras mas quero montanhas, quero que nesse Mundo Salzburg, São Salvador da Bahia, Rio de Janeiro, Boston, Tibete, Praga, os Alpes, Cabo Verde... sejam a 5 minutos da minha casa, para eu poder ir de bicicleta numa rua sempre a descer.
Quero um mundo com tantas coisas e sem tantas coisas.
Apresento o meu projecto, ao chefe do Universo, na presença da comissão para a criação de novos Mundos. No fim da apresentação um dos membros pergunta-me:
E então as leis?
E então a justiça?
E então os órgãos de poder político?
E então a economia?
E então a produtividade?
E então a saúde?
E então o emprego?
E então a morte?
Eu respondo, esqueçam o novo Mundo dêem-me só a Jennifer Aniston e o meu clube campeão todos os anos, que eu não volto cá mais.
Quero poder jogar futebol nas avenidas e pontes. Quero poder jogar até ao fim da noite e gritar bem alto quando marcar o ultimo golo da partida, o golo decisivo.
Preciso de um Mundo, onde acorde de manhã na tua cama e deite-me à noite na cama dela. Quero poder namorar mil mulheres num dia, e no dia seguinte descansar de tanto amor.
No meu Mundo tenho de ter uma casa na montanha e outra na praia, a casa é de todos e todas as noites é festa.
Quero um Mundo, onde uma semana tem oito dias, o fim-de-semana são sete e tenho de ter uma folga durante a semana. Caso contrario recuso-me a trabalhar, então o patrão vai-me mandar embora e dar-me um aumento de ordenado.
Quero um Mundo, onde tenha direito à Jennifer Aniston um dia por semana, onde o meu clube seja sempre campeão. Se o meu clube perder o campeonato, então passo a ter direito à Jennifer Aniston 5 dias por semana.
Não quero fronteiras mas quero montanhas, quero que nesse Mundo Salzburg, São Salvador da Bahia, Rio de Janeiro, Boston, Tibete, Praga, os Alpes, Cabo Verde... sejam a 5 minutos da minha casa, para eu poder ir de bicicleta numa rua sempre a descer.
Quero um mundo com tantas coisas e sem tantas coisas.
Apresento o meu projecto, ao chefe do Universo, na presença da comissão para a criação de novos Mundos. No fim da apresentação um dos membros pergunta-me:
E então as leis?
E então a justiça?
E então os órgãos de poder político?
E então a economia?
E então a produtividade?
E então a saúde?
E então o emprego?
E então a morte?
Eu respondo, esqueçam o novo Mundo dêem-me só a Jennifer Aniston e o meu clube campeão todos os anos, que eu não volto cá mais.
quarta-feira, julho 12, 2006
Espelho 2
Minha culpa
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém
Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...
Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...
Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
Florbela Espanca
Espelho 1

Me falta tempo
para ler todos os livros que quero
Me falta tempo para passeios e praias
e as locadoras com seus filmes
Felinis que não vi
e os museus que me esperam
me falta tempo.
Me falta tempo para amar os flertes
e aprofundar as amizades de coquetéis
me falta tempo para arrumar o armário
jogar coisas fora
passar a limpo a caderneta de telefone
redecorar o quarto
Me falta tempo para o orfanato
e ajudar o meu vizinho a pendurar o quadro na parede.
Me falta tempo para aprender japonês
pintar em tecido
tocar piano
tecer meus planos
Me falta tempo para as aquarelas que sonho
preciso anotar meus sonhos
Mas
me falta tempo.
Tempo para os amigos antigos que já me esqueceram
tempo para as músicas e cds
tempo para o estrangeiro, ilhas e cantões a conhecer
Me falta tempo para os poemas que a poesia me exige
e gravar os programas de TV
no entanto,
quantas vezes não tenho nada, absolutamente nada
para fazer.
Sam Butcher
terça-feira, julho 11, 2006
Amar dentro do peito...
Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:
Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:
Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:
Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.
Bocage
(Bocage, não foste nada burro… mesmo nada.)
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:
Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:
Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:
Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.
Bocage
(Bocage, não foste nada burro… mesmo nada.)
Desencontro ao Acaso
Um olhar como quem não quer nada
uma troca de sorrisos espontâneos
a respiração para por um instante
transpiro e o coração acelera, será?
num momento perco o controle
meu corpo sente o desejo de ter
sentimento dispara, veloz, intenso
volta a razão, é uma paixão, será?
tarde demais, ela esta distante,
poderia ter sido, sentido, vivido
mas desta vez, nunca saberei.
Joél Gallinati Heim
(Amigo desta vez nada de falhar golos de baliza aberta...)
uma troca de sorrisos espontâneos
a respiração para por um instante
transpiro e o coração acelera, será?
num momento perco o controle
meu corpo sente o desejo de ter
sentimento dispara, veloz, intenso
volta a razão, é uma paixão, será?
tarde demais, ela esta distante,
poderia ter sido, sentido, vivido
mas desta vez, nunca saberei.
Joél Gallinati Heim
(Amigo desta vez nada de falhar golos de baliza aberta...)
segunda-feira, julho 10, 2006
Então amigo, tudo bem? Tudo tranquilo?
Viste aquele filme de que te falei?
A sério? Mas porque?
Isso não é desculpa, agora vais andar sempre assim por causa dela?!
Sim, eu sei que não é fácil para ti, mas tens de fazer um esforço.
Ela ligou-te outra vez? Não posso acreditar? Que queria?
Pois, devia estar a precisar de um pouco de auto estima e lembrou-se de ti.
A sério amigo, não a defendas…
Ok, tu é que sabes, mas continuo a achar que andas a perder o teu tempo.
Já sei que gostas dela, mas já reparas-te que pareces um morto vivo…
Claro que ela não tem culpa, culpa tens tu de andar à volta dela, ela não é o sol
Eu sei que não tenho nada a ver com isso, a vida é tua mas somos amigos…
Tens dúvidas caralho? Não digo mais nada…
Tens toda a razão, vai um abraço?
Ok, já chega, parecemos dois paneleiros sentimentais.
Ya, pois é, vamos é falar de futebol.
Viste aquele filme de que te falei?
A sério? Mas porque?
Isso não é desculpa, agora vais andar sempre assim por causa dela?!
Sim, eu sei que não é fácil para ti, mas tens de fazer um esforço.
Ela ligou-te outra vez? Não posso acreditar? Que queria?
Pois, devia estar a precisar de um pouco de auto estima e lembrou-se de ti.
A sério amigo, não a defendas…
Ok, tu é que sabes, mas continuo a achar que andas a perder o teu tempo.
Já sei que gostas dela, mas já reparas-te que pareces um morto vivo…
Claro que ela não tem culpa, culpa tens tu de andar à volta dela, ela não é o sol
Eu sei que não tenho nada a ver com isso, a vida é tua mas somos amigos…
Tens dúvidas caralho? Não digo mais nada…
Tens toda a razão, vai um abraço?
Ok, já chega, parecemos dois paneleiros sentimentais.
Ya, pois é, vamos é falar de futebol.
Sobre viver e pensar
Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa
quinta-feira, julho 06, 2006
Gato branco Gato preto

Um dia, entraram-me pela casa dois gatos. Um branco e um preto. Foram ficando e eu fui deixando que eles invadissem pacificamente o meu espaço.
O gato branco era meigo e dócil, vinha deitar-se no meu colo sem eu chamar por ele. Tinha uma generosidade no olhar como eu nunca tinha visto, e reclamava docemente quando eu atrasava-me ou esquecia-me de dar-lhe comer.
O gato preto era egoísta e agressivo. Nunca vinha ter comigo, mesmo quando eu o chamava. Eram tão raras as vezes que o acariciava que me esqueci da sensação do seu pêlo. Reclamava constantemente dos meus desleixos e logo que via uma porta ou janela aberta fugia e passava dias sem voltar.
No início gostei de ambos. O branco fazia-me companhia, dava-me simpatia e acordava-me com um miar meigo. O preto dava-me o desafio de o conquistar, tinha um comportamento sedutor e selvagem que me intrigava.
Com o passar dos dias fui percebendo que o gato branco entediava-me porque estava sempre ali ao meu lado, e era aborrecido ver, aprender e saber todos os seus comportamentos estereotipados. O gato preto irritava-me porque nada me dava e tirava-me o que podia. De que servia ter dois gatos assim?
Como não sabia manda-los embora, fui eu que sai de casa, para outra onde apenas existe espaço para mim e um gato preto e branco.
O gato branco era meigo e dócil, vinha deitar-se no meu colo sem eu chamar por ele. Tinha uma generosidade no olhar como eu nunca tinha visto, e reclamava docemente quando eu atrasava-me ou esquecia-me de dar-lhe comer.
O gato preto era egoísta e agressivo. Nunca vinha ter comigo, mesmo quando eu o chamava. Eram tão raras as vezes que o acariciava que me esqueci da sensação do seu pêlo. Reclamava constantemente dos meus desleixos e logo que via uma porta ou janela aberta fugia e passava dias sem voltar.
No início gostei de ambos. O branco fazia-me companhia, dava-me simpatia e acordava-me com um miar meigo. O preto dava-me o desafio de o conquistar, tinha um comportamento sedutor e selvagem que me intrigava.
Com o passar dos dias fui percebendo que o gato branco entediava-me porque estava sempre ali ao meu lado, e era aborrecido ver, aprender e saber todos os seus comportamentos estereotipados. O gato preto irritava-me porque nada me dava e tirava-me o que podia. De que servia ter dois gatos assim?
Como não sabia manda-los embora, fui eu que sai de casa, para outra onde apenas existe espaço para mim e um gato preto e branco.
quarta-feira, julho 05, 2006
Procura-se um Amigo
Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grande chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grande chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
Vinícius de Moraes
terça-feira, julho 04, 2006
Faces que ficam.

Sim, peço-te. Dá-me a tua face para guardar numa das gavetas da minha memória.
Não, desculpa. Uma fotografia não serve. Não consigo sentir os teus lábios húmidos numa fotografia. Dizes que tens um vídeo. De que me serve um vídeo, por acaso consigo sentir o perfume da tua pele num vídeo?
Já te disse, quero a tua face. Quero conservar para sempre o franzir das tuas sobrancelhas quando eu dizia algum disparate (e disse tantos…).
Preciso de ter perto de mim o processo que é o formar do teu sorriso, que faz com que tudo o resto seja banal.
Como posso viver sem essa tua face que conheço tão bem, sem essas mil expressões que conseguias fazer enquanto conversávamos.
Sempre adorei essa tua cara de zangada, que dizia que já não gostava de mim mas que ocultava um sorriso futuro que me perdoava mais um disparate. Onde esta ela agora? Ainda a tens?
Sabes perfeitamente que deixaste uma parte da tua face comigo, que não me chega para viver mas que te faz falta para seres aquilo que eras quando essa tua face também era minha.
Não, desculpa. Uma fotografia não serve. Não consigo sentir os teus lábios húmidos numa fotografia. Dizes que tens um vídeo. De que me serve um vídeo, por acaso consigo sentir o perfume da tua pele num vídeo?
Já te disse, quero a tua face. Quero conservar para sempre o franzir das tuas sobrancelhas quando eu dizia algum disparate (e disse tantos…).
Preciso de ter perto de mim o processo que é o formar do teu sorriso, que faz com que tudo o resto seja banal.
Como posso viver sem essa tua face que conheço tão bem, sem essas mil expressões que conseguias fazer enquanto conversávamos.
Sempre adorei essa tua cara de zangada, que dizia que já não gostava de mim mas que ocultava um sorriso futuro que me perdoava mais um disparate. Onde esta ela agora? Ainda a tens?
Sabes perfeitamente que deixaste uma parte da tua face comigo, que não me chega para viver mas que te faz falta para seres aquilo que eras quando essa tua face também era minha.
segunda-feira, julho 03, 2006
"Hate is often an obverse form of love.
You hate someone whom you really wish to love but whom you cannot love."
Sri Chinmoy
You hate someone whom you really wish to love but whom you cannot love."
Sri Chinmoy
domingo, julho 02, 2006
Viva Portugal!

Somos um País em que o nível de corrupção é dos mais altos da Europa, em que se espera meses por uma simples consulta médica, em que se esperam anos por uma cirurgia, em que a cirurgia é marcada algumas vezes depois do paciente ter falecido, em que metade da nossa floresta arde todos os verões, em que a criminalidade nas grandes cidades não para de aumentar, em que os salários são praticamente os mesmos de à dez anos atrás e os preços aumentam todos os dias, em que as famílias estão todas endividadas para poderem ter uma televisão, um computador, umas ferias, em que formamos milhares de profissionais que não vamos precisar, em que não formamos centenas de profissionais que vamos precisar, em que a cunha ainda é uma lei, em que os que ganham sempre continuam a ganhar e os que perdem sempre continuam a perder mas mesmo com isto tudo somos capazes de sair à rua com uma bandeira do nosso País na mão e gritar bem alto e orgulhosamente o nome de Portugal, porque ganhamos mais um jogo de futebol, um jogo que nos coloca entre as quatro melhores selecções do Mundo. Obrigado Futebol!
Foto 1

Ele ouvia cair cada lágrima que ela chorava tal era o som do silêncio que se interponha entre eles. Para que falar? Já nada havia para dizer. Ela fez uma tentativa de se levantar mas o corpo não correspondeu ao seu desejo e manteve-se ali sentada ao lado dele, separados por 30cm de ar que mais pareciam altas montanhas cobertas de gelo.
Ele sentia-se culpado por tudo, mas ao mesmo tempo tentava-se convencer a si próprio que nada do que estava a acontecer era culpa dele, tinha-lhe dito com todas as palavras, eu não sei amar e talvez nunca venha a saber, ela sempre dizia, eu amo por nós dois, e ele respondia, eu acho que nem sei ser amado, ela sempre ignorava e acabava por dizer, abraça-me mas desta vez mais forte. E agora estavam ali, no sítio onde sempre souberam que iam acabar mas sofriam como estivessem a viver o inesperado.
Ele sentia-se culpado por tudo, mas ao mesmo tempo tentava-se convencer a si próprio que nada do que estava a acontecer era culpa dele, tinha-lhe dito com todas as palavras, eu não sei amar e talvez nunca venha a saber, ela sempre dizia, eu amo por nós dois, e ele respondia, eu acho que nem sei ser amado, ela sempre ignorava e acabava por dizer, abraça-me mas desta vez mais forte. E agora estavam ali, no sítio onde sempre souberam que iam acabar mas sofriam como estivessem a viver o inesperado.