segunda-feira, setembro 10, 2007

Brazilian Song


Estou sofrendo uma dor de amor

Estou-me iludindo com ela

Estou sofrendo uma dor de amor

Estou tão preso nessa cela.

Já sinto a musica a parar

E você nem apareceu para dançar.

Esta todo o mundo indo embora

Percebendo que você me abandonou

Nem tenho coragem de sair la fora

Com medo de descobrir que tudo desmoronou.

Nunca vivemos nada eu sei

Mas eu queria viver

Queria te dar todos aqueles beijos que não dei

Tem dias que só não queria sofrer.

Queria bater na sua porta

Fazer seu coração disparar

Porquê fico dando vida a uma dor morta?

Eu fico puxando a corda mas você não pára de se afastar.

Fica mais um pouco

Deixa eu aproveitar esse amor louco.

Talvez


Levanta as mãos.

Esconde a razão.

Continua a saltar à corda.

Eu chamei por mim?

Eu chamei por ti?

Tu chamas-te por alguém?

Sim,

Fui eu que vim.

Lembras-te se te salvei?

Será que fui eu que te matei?

Não interessa.

Levanta os pés do chão,

Corre com a alma debaixo do braço,

Não olhes para trás.

Escorrega,

Cai,

Tropeça no meu abraço.

Foi Deus quem te empurrou?

Foi o vento que te rasteirou?

Se foi, olá e adeus.

Pousa as asas no chão.

Esquece,

Senta-se,

Espera.

Estou quase a chegar.

Cheguei a tempo?

Tu ainda lá estavas?

Talvez.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Soldado


Passei séculos sem lutar, sem levantar uma espada ou manejar um machado. Tenho saudades do cheiro a sangue que me acariciava o ego e importunava a alma. Fui implacável com os meus inimigos, que achavam em mim a morte certa. Nunca usei um escudo, apenas precisava de uma espada numa mão e um machado na outra, apenas precisava de um inimigo com o sangue suficientemente quente para que eu pudesse arrefece-lo. Nunca procurei a morte, ela é que me encontrou, fez de mim o seu derradeiro discípulo, o seu melhor aluno.

Agora estou aqui, na margem deste rio por onde corre a minha vida no sentido contrario, com uma flecha espetada na perna ate a profundidade dos meus sonhos distantes. Quando espreito para o rio vejo o reflexo do nada, que se afasta irremediavelmente para uma foz pouco distante.

Fui o soldado perfeito, poucos fizeram a morte nascer como eu fiz, mas agora gelo o meu sangue numa margem de um rio secundário sendo a morte o meu único pagamento.

terça-feira, setembro 04, 2007

Arquitecta do Mundo


Um quarto. Eu sentado, observando-te, folheando as paginas de um livro na minha cabeça. Tu, deitada nua no teu trono do prazer, deixando o sol pousar em ti a leve luz que anuncia o dia. Naquele preciso momento não tenho duvidas, és tu a arquitecta definitiva do meu Mundo privado.

Peço autorização a Deus para edificar o meu novo Mundo em teu corpo, já tenho a maquete registada entre dois pensamentos pecaminosos.

Sim, já sei. Um lago em teu umbigo, jardins em torno dos teus seios firmes de prazer, uma ponte entre os teus lábios e os meus, um túnel exclusivo para a nossa volúpia e podíamos brincar escondidos nas curvas da tuas ancas, descobrindo juntos a sensação do coração a disparar.

Sim tu, quem alem de ti podia arquitectar a minha alegria? Ninguém.

Tenho a certeza que foste tu a desenhar a viola da Adriana Calcanhoto quando ela canta só para mim, desenhas-te o sorriso prometedor das crianças que brincam na convicção de uma inocência que ainda teima em existir, desenhas-te aquele golo que nos deu o campeonato no ultimo minuto, desenhas-te a noite em que te encosto numa parede que nos sustenta a luxuria e te possuo sem preconceitos enquanto trocamos suores reprimidos em nosso corpos.

Será que quando acordares ainda vou estar aqui? Será que ainda vais estar tu ai? Será que vai existir uma parede de pé, que resista ao terramoto das minhas emoções, para que eu te posso encostar eternamente?

Será que ainda queres ser arquitecta?

Anda, vamos!

Caminho sozinho no Mundo sobre uma passadeira vermelha que eu próprio estendo a cada passo que dou. Não me preocupo com as flechas que me lançam de todos os lados e de mais um. O veneno imortal na ponta da flecha é incapaz de penetrar na minha pele porque eu uso o escudo dos teus beijos prometidos. Não quero saber dos gritos e insultos que disparam sobre mim, como snipers escondidos atrás de quatro paredes fingidas. Carrego em mim a minha essência conservada e intacta ao preço de tantas derrotas e já nada me aterroriza. Agora sim, vocês me empurram para trás sem conseguírem travar o meu destino indomável.

Agora vou saltar muros invisíveis!

Agora vou correr sem parar!

Agora vou chorar lágrimas tuas!

Agora vou pontapear as dores mudas!

Agora vou dar mil voltas ao Mundo só para te encontrar!

Agora vou abrir a minha porta e se alguém quiser entrar não precisa de pedir por favor basta limpar os pés descalços por tanta luta e seguir essa passadeira vermelha, a qualquer momento eu estarei bem ali, à tua frente. E então:

Vamos deitar-nos sobre as nuvens e ler poesia que não rima, esquecer tudo o resto por um dia e limitarmos-nos a ser só nós os dois entregues ao tempo, que não se nega a ser nosso cúmplice. Já não caminho sozinho.

A passadeira vermelha continua aos nossos pés.

sábado, setembro 01, 2007

O Jogo

Vivo num estádio iluminado por virtudes e vaidades. Um estádio que tantas vezes é demasiado grande para este Mundo e que tantas outras vezes é estranhamente pequeno para determinados corações.

De um lado existe uma claque que entoa o meu nome ao ritmo de uma melodia da moda, do outro lado uma outra claque com gritos que me elevam até ao mais antigo dos insultos. Eu estou no meio campo. Sozinho. Demasiado longe das duas balizas para fazer a diferença entre ser e não ser ou ter sido. Estou sobre uma relva humilde, subjugada a minha vontade, com o poder dos pequenos deuses, que se ocupam com as pequenas coisas que raramente interessam a todos os outros.

Neste campo não existe tinta branca a fazer as marcações de territórios por conquistar existe sim altos muros de um ar denso demais para eu poder contrariar. As altas bancadas são construídas por ausências de todos aqueles que se negaram a me aplaudir. O arbitro esqueceu-se da bola, algures num olhar vazio do passado que apenas o permitiu transformar num ser perfeito, alheado por excessiva fé, presente num corpo onde o sangue que circula se limita a arrefecer.

Os adversários apresenta-se armados por ironias maltratadas e palavras insubordinadas que me obrigam a um jogo defensivo, apenas aberto por espaços de medo que um dia uma criança abriu.

Tudo o que desejava era ter uma bola.