segunda-feira, agosto 27, 2007

Mensagem irriquieta de alguém tranquilo

Sempre que alguém me diz "a tua vida só depende de ti" eu fico imensamente assustado, começa a metralhar na minha cabeça uma pergunta recorrente. "Como é possível a minha vida depender de alguém tão irresponsavelmente confuso como eu?" Se a minha vida apenas dependesse de mim o mais provável era ser narrada num Bordel Colombiano ou num relvado de futebol, pontuada por um golo policromático ou por um grito transpirado de uma mulher nua, que me iriam conduzir a morte instantânea por infinito prazer. Por isso a todos os que me dizem "a tua vida só depende de ti" eu respondo claramente, "não depende, não senhor. Graças a Deus".
Eu próprio, arrastado por um vento surdo que me leva para longe da clarividência dos sensatos, digo a mesma frase humanamente irresponsável quando a conversa com alguém não me deixa outra possível fuga.
Basta uma pequena reflexão para percebermos que nunca a nossa vida podia depender só de nós sem que o Universo entrasse novamente num imperfeito caos do passado, do qual nem a mais antiga estrela se lembra. Dos 0 aos 16 anos somos demasiados imaturos para termos responsabilidade sobre alguma coisa, seja ela qual for. Dos 16 aos 55 anos andamos demasiados ocupados a pensar em sexo para termos tempo suficiente para pensar na nossa vida. Dos 55 anos em diante estamos demasiados ocupados a relembrar o passado, imersos em ideais vingativos e mesquinhos por nunca termos sido aquilo que gostaríamos de ter sido.
Por isso eu peço sempre a Deus que ele seja o único responsável pela minha vida e que me deixe completamente fora dessa responsabilidade, para o meu bem e para o bem geral. A maior prova que Ele aceitou o meu desafio, é que hoje eu ainda tenho esperança.

domingo, agosto 26, 2007

Anjo Meu

Pousou um anjo na minha vida, desses que nem precisam de asas para voar. Não sei se é um anjo negro ou um anjo branco, não preciso de saber, sei que é um anjo bom. Um anjo que chegou carregado com uma alegria cheia de esperança perfumada por um fina camada de duçura. Não conheço esse anjo. Alguem chega a conhecer verdadeiramente algum anjo?
Por vezes a vida parece nos dar exactamente aquilo que nós precisamos, de uma mão disposta a puxar por nós para um lugar que só pode ser melhor. O que mais gosto neste anjo é que ele tal como eu traz consigo o peso de muitas duvidas mas sempre decoradas por camadas de muitas cores.
Quem não tem medos e receios? Quem não tem um amor estranho no pensamento? Quem não tem um sonho lindo? Claro que toda a gente tem e esse anjo também. Ele traz na face uma ansiada esperança, dessas que toda a gente procura e que me diz a mim "vai ficar tudo bem".
Espero que este anjo não se importe mas por agora não vou largar a sua mão.

Para Mari

sábado, agosto 25, 2007

Stuff

Existe uma pura alegria em cada movimento do seu cabelo, ao vê-la sinto que o Mundo depositou toda a esperança de salvação nos seus olhos generosos. É difícil encontrar assim uma pessoa, que dá com o mesmo prazer que todos nós temos a receber, é difícil encontrar assim uma pessoa que pergunta "Estas bem?" e espera para ouvir a resposta. Quando perco toda a esperança e os meus passos se tornam mais lentos só tenho de pensar nela para voltar a encher o meu universo com partículas de esperança que tinha perdido pelo caminho.
Sei que cada movimento que ela faz arrasta consigo uma poeira cósmica decorada com poesia que deixou de rimar pelo desuso, poesia que carrega o sentimento semelhante ao da chuva num dia de primavera, quando a água nos dá a conhecer o cheiro a terra.
Sinto que tenho uma divida a pagar para com ela, para contigo mas sobretudo para comigo. Uma divida sem juros mas que cresce em cada passo que me nego a dar, as vezes estou tão cansado que tudo o que quero é que me voltassem a ensinar a andar. Talvez ela me segure nos primeiros passos, com as suas mãos cheias da confiança própria de quem não me conhece.
Sonho com a possibilidade de este Mundo ser uma poesia mas quando acordo sinto que não é. Nunca soube fazer rimar a minha vida, talvez tivesse dado demasiado importância as rimas durante o meu caminho. Agora vejo que provavelmente a vida não tem de rimar para a poesia ter valor.
Sei que ela não pode estar sempre aqui, não era pratico para ela, não era pratico para mim. Acima de todas as coisas não acredito em coisas práticas.

Espera

Vivo na sombra de um Sol, carregando o peso do Mundo. À minha frente constrói-se um subida impossível por onde é inevitável ir, uma subida decorada com alfinetes dourados que me fazem lembrar as lágrimas que a vida chora no momento antes de morrer. O sinal está vermelho, o carro está parado. Mas o Mundo esqueceu-se de encontrar essa pausa que muitas vezes trás a resposta, ficou cansado de espera pelo o nada que sempre trazíamos. Eu continuo a subir, o sinal mudou para verde mas o carro continua parado. Um momento antes de tudo eu lembro-me da dor que é carregar este nosso Mundo que me faz penetrar nesses vossos alfinetes dourados. O sinal está amarelo mas o carro já não está lá, apenas ficou a sua sombra arrastando-se vagarosamente, rezando por um sinal verde, com a promessa que tudo vai ficar bem.
Já estou bem perto do Sol, quase no fim da subida. Perdi a dor pelo caminho, por vezes só precisamos de não acreditar e tudo fica bem. O Mundo ainda está aqui e o Sol também, o carro, guiado pelo medo, encontrou novamente a sua sombra.
O sinal agora está verde, existem momentos em que simplesmente não existe outra cor.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Se pelo menos...

Um pequeno corte na camada mais profunda da minha alma, feito por uma lamina afiada pelo teu ódio. As vezes quero gritar esta dor que se encerra dentro de mim, quero expulsar essa tua rejeição que acompanha o meu sangue quase estagnado pelo cansaço da derrota.
Deito-me no chão do teu mundo, pontapeando todas as estrelas que se atravessam entre mim e o céu incapaz de te cobrir. O chão roda demasiado rápido e eu perco o mapa do tesouro que me vendes-te em troca de tudo. Um mapa sem X, esburacado pela indecisão que construíste em torno de nós, um mapa que nunca consegui queimar porque sugas-te todo o oxigénio que eu possuía.
Se pelo menos o dia amanhece-se mais cedo. O que persegues agora? Lembras-te como juntos fazíamos crescer a vida?
Se pelo menos tivesses existido, valeria o sacrifício da derrota.