sábado, janeiro 20, 2007

Um estanho acordar


Era o último momento. Já só via aquela arma nua e fria que iluminava um sorriso prolongado e doente. A morte impacientava-se à espera que a bala fosse libertada, para fazer cumprir o meu plano na terra.
Confesso que não era este o fim que tinha em mente para a minha vida, sempre imaginei que morreria rodeado de uma multidão de aplausos, acompanhada por uma explosão policromática que se iria sentir em toda a Terra, que iria despertar todas as almas antigas que agora me vão receber.
A arma disparou. Acabou.
A minha mente já percebeu a morte, o meu corpo continua a negar a evidência que este ciclo acabou.
Uma bala sem remorsos, que não hesitou em entrar na minha vida para a tirar. Uma bala fria, que penetra no meu cérebro e se aloja bem ao lado dos meus sonhos, das minhas esperanças…
O corpo começa a perceber. Sinto um suor frio a percorrer-me. Não sinto dor. Não sinto medo.
Um escuro imenso começa a invadir a minha consciência, nem a noite mais densa é assim. Ouço uma voz muito ténue. É a voz de um anjo que me avisa que está no momento de abandonar aquele corpo maculado pela morte. Nunca me senti tão leve, já não carrego o peso da vida, nem o peso da morte. Tudo começa a clarear, estou a acordar.
Acordei.